Colégio Paulo Freire Jundiaí

Colégio Paulo Freire Jundiaí

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Correria no pátio

Muitas cenas do cotidiano escolar provocam em mim uma sensação de bem estar. Nem só de teorização vive o educador. Perceber a vida que se processa pelos pátios e corredores das escolas, também se constitui como matéria prima da reflexão. É quando relacionamos nosso empenho em entender melhor os acontecimentos, utilizando as ferramentas do conhecimento, com a situação de ficar rindo sozinho ao visualizar essas cenas.
O Rodrigo, o Marson e toda a molecada vivem correndo pelo pátio. Difícil deixar de ficar feliz ao ver a alegria dos meninos. Difícil não gostar da meninada. Difícil deixar se sentir, intuitivamente, que a escola cumpre muitos papéis importantes na vida das crianças e adolescentes. Revendo uma foto dos anos 70, na escadaria da Escola Estadual Cecília Rolemberg Porto Guelli, onde cursei meu Ensino Fundamental, associei a imagem dos meus ex-colegas sorrindo à alegria dos meninos da escola em que trabalho. Existe algo que escapa a qualquer controle educativo, a experiência subjetiva da felicidade que a convivência com nossos pares pode proporcionar.
Talvez falte esta percepção à maioria dos pais e educadores, a de que educar comporta, como dizia Paulo Freire, a boniteza e a alegria. Que seja proporcionada uma convivência que torne prazeroso o ato de estudar. Os professores das séries iniciais talvez sejam privilegiados neste aspecto, porque eles são testemunhas de situações engraçadas e inusitadas que demonstram o quão criativas e sensíveis são nossas crianças, tão estimuladas por fatores externos à escola. Cabe ao educador fazer a leitura do que deve ser reforçado e do que deve ser esclarecido para que não se perpetue no comportamento da meninada.
É como se, trabalhando, os educadores tivessem a enorme responsabilidade, de deixar emergir a vida de cada um, na sua espontaneidade. Vemos ser ressaltados, todos os dias, aspectos do ato educativo que parecem negar essa espontaneidade. Preferimos o discurso da seriedade técnica, da obrigação em “alfabetizar” no prazo, como se alfabetização comportasse apenas o domínio da palavra. Nada contra o empenho técnico, profissional. Mas há uma demanda social pela boa convivência que é incontrolável, que escapa ao controle de quem quer que seja. Não há governos que dêem conta de fechar o cerco em relação a essas experiências espontâneas.
A felicidade do estar na escola deve prevalecer ao martírio do aprender sem alegria.

José Renato Polli. Doutor em Educação (FEUSP). Professor Universitário e Diretor do Colégio Paulo Freire. Blog: http://renatopolli.zip.net

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