Muitas cenas do cotidiano escolar provocam em mim uma sensação de bem estar. Nem só de teorização vive o educador. Perceber a vida que se processa pelos pátios e corredores das escolas, também se constitui como matéria prima da reflexão. É quando relacionamos nosso empenho em entender melhor os acontecimentos, utilizando as ferramentas do conhecimento, com a situação de ficar rindo sozinho ao visualizar essas cenas.
O Rodrigo, o Marson e toda a molecada vivem correndo pelo pátio. Difícil deixar de ficar feliz ao ver a alegria dos meninos. Difícil não gostar da meninada. Difícil deixar se sentir, intuitivamente, que a escola cumpre muitos papéis importantes na vida das crianças e adolescentes. Revendo uma foto dos anos 70, na escadaria da Escola Estadual Cecília Rolemberg Porto Guelli, onde cursei meu Ensino Fundamental, associei a imagem dos meus ex-colegas sorrindo à alegria dos meninos da escola em que trabalho. Existe algo que escapa a qualquer controle educativo, a experiência subjetiva da felicidade que a convivência com nossos pares pode proporcionar.
Talvez falte esta percepção à maioria dos pais e educadores, a de que educar comporta, como dizia Paulo Freire, a boniteza e a alegria. Que seja proporcionada uma convivência que torne prazeroso o ato de estudar. Os professores das séries iniciais talvez sejam privilegiados neste aspecto, porque eles são testemunhas de situações engraçadas e inusitadas que demonstram o quão criativas e sensíveis são nossas crianças, tão estimuladas por fatores externos à escola. Cabe ao educador fazer a leitura do que deve ser reforçado e do que deve ser esclarecido para que não se perpetue no comportamento da meninada.
É como se, trabalhando, os educadores tivessem a enorme responsabilidade, de deixar emergir a vida de cada um, na sua espontaneidade. Vemos ser ressaltados, todos os dias, aspectos do ato educativo que parecem negar essa espontaneidade. Preferimos o discurso da seriedade técnica, da obrigação em “alfabetizar” no prazo, como se alfabetização comportasse apenas o domínio da palavra. Nada contra o empenho técnico, profissional. Mas há uma demanda social pela boa convivência que é incontrolável, que escapa ao controle de quem quer que seja. Não há governos que dêem conta de fechar o cerco em relação a essas experiências espontâneas.
A felicidade do estar na escola deve prevalecer ao martírio do aprender sem alegria.
José Renato Polli. Doutor em Educação (FEUSP). Professor Universitário e Diretor do Colégio Paulo Freire. Blog: http://renatopolli.zip.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário